sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Capítulo 1

Era quase sete horas da manhã, lembro que minha mãe me deixou dentro do colégio e voltou pra casa. Eu acostumado com as mordomias da escolinha particular no jardim e pré, estranhei a escassez de limpeza e organização do colégio estadual. Era meu primeiro dia de aula da primeira série do ensino fundamental. Chovia bastante, tinha conhecimento que havia um rio na frente da escola e em dias de chuvas fortes a escola inundava. Um pouquinho de medo e frio me faziam tremer. Formando a fila no pátio esperando que as professoras viessem nos buscar pra sala de aula eu me encaixei entre outras crianças e esperei. As professoras chegaram, a que conduzia minha fila, e que provavelmente seria a minha professora pelo resto do ano inteiro, era uma senhora de cabelo com corte Joãozinho. Cantamos o hino nacional, era costume nas escolas públicas. Alguns fingiam que cantavam, eu sabia cantar pois havia aprendido na escolinha infantil. Lá já havia aprendido a ler e escrever também. Após o hino seguimos pra sala de aula, a sala seria fixa, Todos os dias seria mesma sala e a mesma professora para todas as matérias.

-Olá crianças, eu sou a professora Conceição e eu serei a professora de vocês este ano. Vamos nesta primeira aula nos conhecer, então vou chamar um aluno de cada vez e vocês vão dizer o nome e o que gosta de fazer, tudo bem?

Os alunos eram todos muito tímidos ainda, incluso eu:

-Eu sou o Vitor e eu gosto de andar de bicicleta!

-E onde você anda de bicicleta Vitor?

-Eu ando de bicicleta quando eu vou para casa da minha tia em São Vicente. Minha bicicleta fica lá.

-E por que você não anda por aqui mesmo, em São Paulo?

-Porque onde eu moro tem muitas subidas, não dá pra andar direito.

-Hum, muito bem. E você na frente do Vitor, como se chama?

Os dias na escola nova foram se tornando agradáveis, comecei a fazer novas amizades, conhecia apenas Leonardo, pois estudava comigo antes, na escolhinha particular. Nos tornamos mais amigos, nossas mães se conheciam e se tornaram amigas também. Sempre estávamos um na casa do outro. Ele tinha três irmãos e eu um só. E preferia passar a tarde com eles, brincávamos bastante. Só não gostava de dormir na casa deles, tinha medo de passar a noite longe da minha mãe.

Eu era muito ligado com minhas primas, principalmente Marjorie, Minha prima com idade mais próxima, apenas dois meses mais velha que eu. Morava em São Vicente, onde sempre passava as férias, feriados e finais de semana. Eu e minha mãe pegávamos um ônibus logo na sexta-feira e meu pai buscava a gente no domingo. Era sempre assim. Eu não desgrudava da minha mãe, meu irmão Marcos já era mais crescido, tinha cinco anos a mais que eu, então ficava com meu pai, ou em casa, sempre tinha uns amigos pra fazer companhia. Mas eu não, e gostava do litoral. Era sempre igual, pegávamos o ônibus no terminal do Tietê, cerca de uma hora depois passávamos por Santos em direção à São Vicente. Descíamos no ponto da padaria Sensação, em frente à praia do Píer. De lá caminhávamos uns 10 minutinhos até a Rua Dom Lara, 512. Era um prédio de dois andares, seis apartamentos pequenos. A garagem era pra quatro carros. Mas não morava ninguém no nº1, meus tios não tinham carro, e a dona do nº6 só aparecia uma vez por mês, morava em São Paulo também. Então As vagas eram preenchidas pelo casal do nº2, pelo filho da senhora do nº3, pelo marido da sindica do nº4 e sobrava um espaço que às vezes o filho da sindica colocava a moto ou o carro.

Eu ia sempre à praia e voltava sempre com as perninhas assadas da areia e do sal do mar. Voltando da praia eu e meus primos sempre começávamos a gritar e decidir quem seria o primeiro a tomar banho. Quando eu me lembrava de falar que seria o primeiro, minha tia entrava no box e logo depois chamava minha prima. Eu ficava chateado com aquilo, mas depois do banho eu nem ligava mais, partíamos direto pro vídeo-game ou almoço e sesta.

Depois de recuperar nossas energias gastas na praia, descíamos no pequeno condomínio ou à rua mesmo, conversávamos, chamávamos amigos, e só subíamos quando era hora do almoço e nossas mães nos chamavam. E não podíamos demorar pra subir quando elas chamavam, senão não desceríamos no dia seguinte. De noite, jantávamos todos espalhados pelo pequeno apartamento, alguns na cozinha, outros na sala assistindo TV e geralmente meu tio e meu primo nos quartos também assistindo TV. Na hora de dormir eu dormia com minha mãe em um colchão no chão ou na cama da Marjorie que dormia com a irmã.

Confesso que gostava de voltar pra casa, minha casa era maior, e em São Paulo não fazia tanto calor como no litoral, Quando voltávamos com meu pai de carro quase sempre eu sentia um mal estar, não gostava de viajar de carro, era sempre a mesma coisa, chegava em casa querendo vomitar ou tonto. Quando não, eu chegava em casa e me jogava no sofá fresquinho, respirava o ar da minha casa, adorava sentir meu quarto de novo. Quando eu voltava estava sempre tudo arrumadinho, pois em dia de semana tínhamos uma empregada que arrumava a casa. Gostava muito dela, cuidava de mim desde que tinha menos de um ano. Sentia como se ela fosse da família, talvez uma segunda mãe, ou pouco menos que isso. Porque a minha mãe eu não trocaria por nada neste mundo. Minha mãe era a minha consciência. E meu pai meu sustento, gostava muito dele, mas não era igual, talvez se nos separássemos não sentiria tanto. Ele me amava e muito, mas não sabia lidar com isso, talvez tudo pra ele fosse na base do dinheiro, o que acabou afastando-o de mim mais ainda, pois só lembrava dele na hora de pedir alguma coisa.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Introdução

Quando eu decidi escrever sobre mim, eu fiquei com receio do quê realmente escrever. Não sabia se começava pela minha infância, se já pularia logo pra adolescência ou para fase atual que eu nem sei classificar. O motivo por eu escrever sobre mim, não tenho certeza, pode ser pelo fato de me entender melhor, analisar minha vida, minhas situações que considero críticas ou difíceis. No final dos meus textos eu sempre decido alguma coisa.
Dificilmente escrevo quando estou feliz. É como uma terapia mesmo, um psicólogo, você está bem, você não precisa. Não que não seja bom mesmo assim.
Estes capítulos eu dedico aos meus amigos que me acompanham, eles que são meus ombros afagos e preocupados comigo. Às pessoas que talvez passaram, estão passando ou passarão por situações parecidas com as minhas. Talvez uma pessoa leia estes capítulos, talvez duas... Talvez nem isso. Mas o importante é: eu escrever pra mim. Pois dedico também estes capítulos a mim.
Eu desejo, eu sonho com uma sociedade que aceite realmente as diversidades da vida. Pois todos nós temos o livre arbítrio. É claro que nem sempre estamos jogando do lado certo. Mas se você realmente acredita que aquilo é o seu dever, o seu desejo, você tem que lutar por esse ideal. Desistir? Por quê? A não ser que você tenha mudado realmente de opinião. Porque desistir por fraqueza não vale a pena. Por isso peço todos os dias a Deus que me guie pelo melhor caminho e me dê forças pra seguir com meus objetivos.